Sempre tive em mente que desistir é uma atitude simples, acessível a todos, algo que não faz de alguém notório e lembrado por vencer grandes desafios. Desistir é algo que demanda uma única decisão e única ação. Nada mais. Com efeito, vencer e fazer jus a um lugar acessível aos nobres requer enfrentamentos diários, abnegação, superação e força hercúlea. O pódio nunca teve e nunca terá lugar para todos. Foi quando decidi de que galeria desejaria fazer parte.
Em 2005, iniciei meus estudos para concursos públicos, com um objetivo em mente: tornar-me servidor do Legislativo Federal. À época as coisas eram um pouco mais difíceis: poucas obras específicas, ausência de editoras que trabalhassem com esse segmento, além do fato de que sempre fui um péssimo aluno e não fazia ideia de como estudar – o que diria estudar com qualidade!
Nos cursinhos que frequentei, quando afirmava nas rodas de bate-papo que almejava ser servidor do Legislativo, era comum ouvir sentenças de desencorajamento, sob a alegação de que os certames promovidos pela Câmara e Senado eram extremamente difíceis, concorridos e que havia candidatos que há tempos estudavam para tais exames. Situações pelas quais todo concursando passou ou haverá de passar.
Considero, porém, fundamental a descrença e a dúvida daqueles que nos circundam. Isso confere um foco de “raio laser”, como dizia Bruce Lee, e faz com que, “cegos”, desenvolvamos uma obstinação que por pouco não se torna visível a olhos humanos. Essa era a essência daquilo que um professor outro dia apregoava em sala, ao sustentar que enquanto não apresentássemos sintomas de anormalidade, desequilíbrio, - hahaha - não estaríamos prontos para passar em concurso. Ele subcomunicava foco, gana, brio.
Foi quando em 2006, após assistir a uma palestra do William Douglas, e após comprar e avidamente ler a sua mais conhecida obra, aprendi como estudar e, sobretudo, que ferramentas utilizar nessa jornada trabalhosa, não mais difícil.
A partir daí notei que não precisava de talento ou algum dom que me fizesse alcançar qualquer coisa que quisesse e que fosse alcançável por um ser humano. Percebi que, dizia Calvin Coolidge, "nada no mundo consegue tomar o lugar da persistência. O talento não consegue; nada é mais comum que homens fracassados com talento. A genialidade não consegue; gênios não recompensados é quase um provérbio. A educação não consegue; o mundo é cheio de errantes educados. A persistência e determinação sozinhas são onipotentes." Vi que motivação é uma tarefa para todos os dias e, amiúde, me abordava com olhar fixo nos “objetos de desejo” estampados no mural de meu quarto, à deriva, como se pudesse tocar, sentir, cada um daqueles sonhos. Gostava de visitar empreendimentos imobiliários e concessionárias de automóveis a fim de me instigar a continuar estudando.
Foram muitas dificuldades, muitos cochilos em bancos de ônibus, muitos sapatos molhados com água da chuva, muitas cobranças de amigos e alguns familiares (apoio incondicional dos mais próximos também), muitas ocasiões em que, quando indagado sobre minha profissão, respondi ‘estudante’, e algumas reprovações – a mais dolorosa delas no concurso da Câmara dos deputados, em 2007, no qual por 16 posições não tive minha redação corrigida.
Contudo, não perdi o foco, não desanimei, não obstante houvesse dias em que, aparentemente, não iria suportar mais aquela rotina espartana de estudos. Em 2008, fui agraciado com a publicação do edital do concurso do Senado Federal. Digo agraciado, dada a sorte que tive, pois, no meu entender, sorte é a ocasião oportuna que se mostra quando estamos devidamente preparados.
Submeti-me àquele exame, logrei êxito em 21ª colocação para o cargo de técnico legislativo – apoio ao processo legislativo. E agora retomei, com afinco, as atividades no intuito de prestar o próximo certame da Casa para o cargo de Consultor Legislativo – Direito Constitucional e Administrativo.
De tudo que se disse resumo o que aprendi ao longo da jornada de preparação com uma história contada pelo personagem do saudoso Richard Crenna, o Coronel Trautman, em Rambo III: “um escultor encontrou uma pedra especial. Ele a lapidou durante meses, até terminar. Os amigos lhe disseram que havia criado uma obra-prima. Ele disse que não criara nada. A estátua havia sempre estado lá. Ele só havia tirado o supérfluo”. Em síntese, o potencial todos temos. Resta saber o que tem o condão de exteriorizá-lo. É como um grande dragão adormecido.
