Nosso Circo da Língua, orgulhosamente, apresenta: a Vírgula Acrobata! Ela se apresenta no trapézio da explicação, sendo assim de uso obrigatório! Quem irá auxiliá-la hoje é a Restrição – esta sem o uso de vírgula.
Sempre que houver uma ideia de totalidade, tem-se explicação e o uso obrigatório da vírgula para separar a expressão explicada de sua explicação. Vejamos:
Não é o ângulo reto que me atrai
nem a linha reta, dura, inflexível,
criada pelo homem.
O que me atrai é a curva livre e sensual,
a curva que encontro nas montanhas do meu país,
no curso sinuoso dos seus rios,
nas ondas do mar,
no corpo da mulher preferida.
De curvas é feito todo o universo
o universo curvo de Einstein.
Oscar Niemeyer. Minha arquitetura – 1937-2005.
Rio de Janeiro: Editora Revan, 2005, p. 339.
Nesse poema de Niemeyer, percebe-se que ‘dura, inflexível’ qualifica de maneira explicativa a ‘linha reta’. Para essa construção, toda ‘linha reta’ é dura e inflexível, sem exceções. Como sabemos disso? A Vírgula Acrobata aparece justamente para marcar a presença do sentido explicativo que se quer dar à expressão. Assim, pode-se dizer – com o texto já pronto, em que não se questiona a verdade escrita – que o autor, quando quer imprimir ideia de totalidade ao que se diz, utiliza-se da vírgula.
Quando, ao contrário, quer-se mostrar a não-totalidade de uma expressão, o autor não usa a vírgula propositadamente, trazendo a ideia de restrição à expressão. Verifica-se isso, no poema, em ‘curva livre e sensual’. Aqui nem toda a ‘curva’ é livre e sensual. A semântica do trecho se dá porque o poeta não se atrai por qualquer curva e sim por aquela ‘livre e sensual’. Ao não impor a vírgula separadora de explicação, ele traz a ideia de restrição à expressão ‘curva’.
Por que nosso Circo traz esse tema à lona, ou melhor, à tona? Essa questão foi objeto de pergunta na prova do concurso para a carreira de diplomata/2011, da banca CESPE/UnB. A questão 8, assertiva C, pede a opção correta e tem essa redação:
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C - Com base no emprego dos sinais de pontuação no texto I, depreende-se que, para o autor do poema, toda linha reta criada pelo homem é dura e inflexível, e nem toda curva é livre e sensual.
RESPOSTA: * C * (Clique no primeiro asterisco e arraste até o segundo para ver a resposta)
Respeitável público! Não só essa questão trazia tal tema na prova supracitada, outras duas vezes foi solicitado que se fizesse tal análise:
Questão 11, item 1 - No trecho “Não gosto de despedidas porque elas chegam dentro de mim como se fossem fantasmas mujimbeiros que dizem segredos do futuro que eu nunca pedi a ninguém para vir soprar no meu ouvido de criança” (R.19-22), o narrador apresenta, por meio de uma comparação, uma das razões de não gostar de despedidas, caracterizando, de forma restritiva, o elemento com que compara as despedidas.
RESPOSTA: * C * (Clique no primeiro asterisco e arraste até o segundo para ver a resposta)
Trecho do texto: A voz irreprimível dos fantasmas, que todos os artistas conhecem, vibra, porém, com certa docilidade, e submete-se à aprovação do poeta, como se realmente, a cada instante, lhe pedisse para ajustar seu timbre à audição do público.
Questão 2, item 3 - São pertinentes as seguintes inferências a partir da pontuação e dos mecanismos de coesão empregados no período entre as linhas 26 e 30: entre todos os fantasmas, alguns são conhecidos por todos os artistas, e o poeta harmoniza, a todo momento, o timbre de sua voz à audiência.
RESPOSTA: * E * (Clique no primeiro asterisco e arraste até o segundo para ver a resposta)
Nesta questão, tem-se que o trecho em que se pede a inferência sobre ele é explicativo, como se comprova com o uso das vírgulas. Portanto, todos os fantasmas todos os artistas conhecem. Assim, o que torna o item falso é o fato de o item trazer ‘alguns’ fantasmas com conhecidos dos artistas. Isso ocorreria se não houvesse a vírgula separando os termos.
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Então, que tal baixar a prova e tentar resolvê-la agora com um pouco de teoria?
Fica o convite! Até a próxima!
Prof. Diego Amorim