“Meu Deus do Céu!”, pensei, quando ouvi, na rádio, que havia um livro de português, para alfabetização, quatro mil escolas, 480 mil alunos, que trazia como corretas frases como “Nós pesca o peixe.”
Senti-me como o ‘desrespeitável público’ de um espetáculo de horror regido por um ministério incompetente, de avaliadores mal preparados, de professores desinformados e alienados. Como um livro com tais exemplos pode ser avaliado, aprovado, distribuído e utilizado em sala de aula sem que ninguém nessa cadeia tenha tido o senso de, no mínimo, queimá-lo?
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(Agente da Polícia Federal – DPF/CESPE, item 12) Em textos de normatização mais rígida do que o texto jornalístico, como os textos de documentos oficiais, a contração de preposição com artigo, com em “da igualdade” (l.16), deve ser desfeita, devendo-se escrever de a igualdade, para que o sujeito da oração seja claramente identificado.
(l.16) O tema da igualdade atravessou, com maior ou menor força, as chamadas sociedades ocidentais.
Resposta:
* E * (Clique no primeiro asterisco e arraste até o segundo para ver a resposta)
Tudo o que se diz foi correto – há de se separar a preposição do artigo quando o elemento for sujeito, como em Está na hora de a onça beber água –, apenas a frase que se escolheu no texto para citação do item não corresponde a sujeito preposicionado. Em O tema da igualdade atravessou (...)
(Agente da Polícia Federal – DPF/CESPE, item 21) A fragmentação sintática de ideias coordenadas, decorrente do emprego do ponto-final antes de “Sobretudo” (l.2), de “Ou” (l.6), que é admitida em textos jornalísticos, deve ser evitada, para facilitar a objetividade e a clareza, na redação de documentos oficiais.
(l.1-7) O uso do espaço público nas grandes cidades é um desafio. Sobretudo porque algumas regras básicas de boa convivência não são respeitadas. Por exemplo, tentar sair de um vagão do metrô com a multidão do lado de fora querendo entrar a qualquer preço, sem esperar e dar passagem aos demais usuários. Ou andar por ruas sujas de lixo, com fezes de cachorro e cheiro de urina.
Resposta:
* C * (Clique no primeiro asterisco e arraste até o segundo para ver a resposta)
Esta, sim, é uma questão que nota a variação linguística, mas sabe que não corresponde a correção de um texto mais formal.
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Chama-se variação linguística a possibilidade de adequação da língua, seja falada ou escrita, à situação vivida. Adaptar a linguagem ao momento é uma capacidade de comunicadores de excelência. Falar para o público específico. Isso é o importante. Imagine um surfista boa-vida, de terno, em uma entrevista de emprego, em uma empresa de grande porte, dizendo E aí, Brow, tem trampo aí pra mim!? Dessa maneira não arrumaria o emprego. Da mesma forma, sua linguagem não se adequaria se chegasse à praia, com a prancha e de calção, e dissesse Um bom-dia, procedamos às ondulações marítimas neste momento. Não se encaixa, não combina.
O português para a vida – e aí se incluem o dia a dia, vestibular, concurso, currículo etc. – exige o cumprimento de normas-padrão, que regulamentam o uso e padronizam a linguagem dita culta. Essa norma não só existe, como é cobrada em várias fases de nossa vida. Seu aprendizado se dá a partir da alfabetização e é contínuo para a vida toda.
O fato de existirem pessoas que falam Nós pesca o peixe não corrobora tal linguagem como aceita, como uma variação da norma. Claro que a comunicação se deu perfeitamente quando do uso da frase, porém não só a comunicação completa importa no ato da fala ou da escrita. Importa o fato de como se dá essa comunicação, o quão está adequada à situação comunicativa.
Prof. Diego Amorim